Por que a gestão é importante na propriedade rural? O ciclo PDCA pode auxiliar nisto.

O equilíbrio entre eficiência produtiva e eficiência econômica na produção agropecuária requer uma abordagem holística, sistêmica, que leve em consideração não apenas os aspectos econômicos da produção agrícola, mas também aspectos biológicos, ambientais e sociais (mercado consumidor). Desta forma, o produtor rural não pode mais se preocupar apenas com o que acontece dentro da sua propriedade rural, somente com a produção em si.

Por que a gestão é importante na propriedade rural? O ciclo PDCA pode auxiliar nisto.
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     Principalmente, a partir da segunda metade da década de 1960, começa a ocorrer um processo de modernização da agricultura brasileira, com intensificação das relações produção/indústria, seja a indústria de insumos ou agroindústria, relativa aos processos de transformação/comercialização. Em outros dois textos deste site (Propriedade ou empresa rural? e Visão sistêmica na gestão rural. O que é e para que serve?) abordei esta questão de interdependência da propriedade e sua cadeia de produção.  Esse período delineou um novo modo de produção agrícola, baseado em um processo de especialização em determinadas atividades produtivas, onde as propriedades rurais passaram a depender de insumos e serviços que elas não conseguiam mais produzir. 

     Estas propriedades rurais têm diversos tamanhos de áreas e escalas de produção, produzem diferentes culturas e, no caso do pequeno produtor, o mesmo tem limitações técnicas e gerenciais que dificultam  atender às exigências do mercado consumidor. Isto, segundo alguns autores, exige  que exista um equilíbrio (particularmente, gosto desta palavra) entre eficiência produtiva e eficiência econômica. 

     A eficiência produtiva refere-se à capacidade de produzir mais com menos recursos, enquanto a eficiência econômica refere-se à capacidade de produzir com o menor custo possível. No entanto, a busca pelo aumento da produtividade, motivada pelo contexto da Revolução Verde, levou a uma dependência cada vez maior de insumos, que gradativamente aumentaram os custos de produção. 

     Para alcançar um equilíbrio entre eficiência produtiva e eficiência econômica na produção agropecuária, é necessário, entre outros, adotar práticas agrícolas sustentáveis que reduzam a dependência de insumos químicos e aumentem a resiliência dos sistemas biológicos. Isso inclui o uso de técnicas de manejo integrado de pragas e doenças, rotação de culturas, plantio direto, consorciação de culturas e outras práticas que promovam a biodiversidade e a saúde do solo, além da pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, como desenvolvimento de variedades mais resistentes a pragas e doenças, o uso de técnicas de agricultura de precisão para otimizar o uso de insumos e o desenvolvimento de sistemas agroflorestais que integram árvores com culturas agrícolas. Nosso colaborador e amigo Ronaldo Antunes abordará estas questões em maiores detalhes em outros textos. 

     O equilíbrio entre eficiência produtiva e eficiência econômica na produção agropecuária requer uma abordagem holística, sistêmica, que leve em consideração não apenas os aspectos econômicos da produção agrícola, mas também aspectos biológicos, ambientais e sociais (mercado consumidor). Desta forma, o produtor rural não pode mais se preocupar apenas com o que acontece dentro da sua propriedade rural, somente com a produção em si. É preciso conhecer o que o mercado consumidor está demandando, precisa atender às demandas do consumidor final. Precisa buscar conhecimentos em gestão, mercado e comercialização de produtos, finanças, bem como o fortalecimento das relações com associações e cooperativas.

     Quanto à gestão de uma propriedade, basicamente é a forma de exercer o que chamamos de funções administrativas que, de forma sucinta, podemos dizer que é planejar, organizar, dirigir (alguns chamam de liderar) e controlar. E entre as diferentes ferramentas que auxiliam neste processo de gestão, temos a metodologia ou ciclo PDCA, empregado a fim de aumentar a qualidade de processos a partir da década de 50. Pode ser utilizado como uma forma de exercer as 4 funções administrativas já mencionadas, de forma cíclica, seguindo uma sequência de 4 etapas:

     A 1ª etapa é a de planejar (do inglês plan), onde são definidos claramente os objetivos a serem alcançados, o tempo necessário para atingí-los, a definição dos meios e métodos utilizados para atingir esses objetivos, incluindo a equipe responsável. Note que podemos relacionar as definições do planejamento com os problemas econômicos fundamentais de uma atividade produtiva, ou seja, as questões que precisam ser respondidas: o que e para quem produzir, quanto produzir e como produzir? Lembrando que para responder a estas questões, precisamos relacionar as respostas às disponibilidades dos fatores de produção.

     A 2ª etapa é a execução (do inglês do). São as ações que devem ser desenvolvidas conforme o que foi decidido no planejamento, que envolve um cronograma e os responsáveis por estas atividades, além da organização dos recursos necessários. É importante destacar que durante o desenvolvimento das atividades é preciso coletar dados para que eles sejam avaliados na próxima etapa do PDCA. Esta coleta de dados faz parte dos controles técnicos e econômicos da atividade.

    A 3ª etapa é a verificação (do inglês check). Nesta etapa, os resultados das atividades executadas devem ser verificados, comparando os resultados (por exemplo, produtividade) com os objetivos e as metas estabelecidos no planejamento (etapa 1). Esta etapa de verificação é muito importante, pois é possível controlar o que acontece na propriedade rural e corrigir os erros encontrados. Este controle deve levar em consideração 3 aspectos: a) indicadores de desempenho (no caso, uso de indicadores técnicos e econômicos); b) coleta e registro de dados; c) verificação e adoção de medidas de manutenção (caso os resultados sejam adequados) ou de melhorias ou medidas corretivas.

     A 4ª etapa é a ação (do inglês action). Nesta última etapa, é a ação no sentido de resolver problemas identificados, sejam reais ou potenciais, ou implementar oportunidades de melhorias.  Comparando o que foi planejado na etapa 1, é possível alcançar ou não os resultados esperados. Assim, se o resultado for alcançado, é preciso incorporar a forma de trabalho nos processos cotidianos da propriedade, estabelecendo um padrão a ser seguido. Ou, se os resultados esperados não foram obtidos, será necessário verificar se o padrão foi ou não seguido e corrigir os erros encontrados.