Propriedade ou empresa rural?

O conceito de agronegócio mudou a forma de administrar uma propriedade rural e o setor deixou de ser somente rural, agrícola ou primário, pois passou a envolver muitos outros setores interligados. Por que, então, é importante gerir a propriedade rural como empresa rural?

Propriedade ou empresa rural?
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     Segundo dados do IBGE, em 1940 o Brasil tinha uma população total aproximada de 41 milhões de pessoas, sendo que  68,7% era população rural. Em 2015, chegamos a uma população total próxima de 204 milhões de pessoas, sendo que aproximadamente 84,7% era população urbana, restando em torno de 15,3% desta população no campo. Este panorama demonstra que a atividade rural, hoje, tem que ser muito mais produtiva que em 1940.

    E a necessidade de maiores índices de produtividade levou a soluções baseadas nos avanços e no uso intensivo de tecnologias, processo que começa a ocorrer a partir da segunda metade da década de 1960 com a modernização da agricultura brasileira e a intensificação das relações entre a agricultura e a indústria. 
Neste contexto as propriedades rurais foram perdendo sua autossuficiência, independente do porte, pela maior dependência de insumos, máquinas e serviços que não são seus, e consequente início de um processo de especialização das atividades produtivas. Além disso, dependem de infraestrutura de suporte às suas atividades como estradas, portos, softwares, pesquisas, fertilizantes, novas técnicas, armazéns, agroindústrias, mercados atacadistas e varejistas, entre outros.

    Esta crescente “dependência externa” dos produtores por insumos industrializados (o antes) e atividades de armazenagem, processamento e distribuição (o depois) que passaram a ser muito complexas para serem desenvolvidas integralmente pelo produtor rural cobraram a sua conta no decorrer do tempo. Para exemplificar esta questão, demonstrei em outro artigo deste site (Gestão rural: o que os produtores estarão fazendo no futuro?) alguns dados da CNA/CEPEA-USP referentes à composição dos setores formadores do agronegócio brasileiro em termos de valor agregado demonstrando que, apesar do produtor se especializar, ser mais produtivo atualmente, reduziu sua participação relativa no valor agregado do agronegócio quando comparado ao produto total, sendo que os setores “externos”, dos quais é dependente, aumentaram sua importância e participação relativa.

    Para o produtor, a expressão “produz mais e sobra menos” se torna mais evidente. 

Por que, então, é importante gerir a propriedade rural como empresa rural?

   Segundo o Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64), empresa rural é o "empreendimento [...] que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico". Também poderíamos definir empresa rural como um sistema técnico-econômico que coordena os fatores de produção (abordado no texto A visão tradicional dos recursos econômicos), possuindo elevado nível de capital de exploração e alto grau de comercialização, tendo como objetivo a sobrevivência, o crescimento e a busca do lucro.

    A primeira definição destaca a necessidade de exploração racional e econômica, enquanto a segunda definição aborda um sistema técnico (eficiência produtiva interna, visando uso mais racional e eficiente, ou seja, a combinação mais lucrativa dos recursos) e econômico (eficácia externa frente ao mercado). 

   Portanto, o agronegócio brasileiro se modernizou, tornando necessária uma mudança na maneira de administrar uma propriedade rural. Atualmente o mercado tem grande influência na produção agropecuária, o que exige do produtor rural ação de maneira sistêmica, interagindo com todos os elos da cadeia produtiva, considerando o contexto de maior dependência apresentado. 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 nov. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm>

Kay, Ronald, D. et al. Gestão de Propriedades Rurais. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2014.

Tavares, Maria Flavia de Figueiredo. Introdução à gestão do agronegócio. 2. ed. Porto Alegre: SAGAH, 2018.