A visão tradicional dos recursos econômicos necessários à produção

A gestão de qualquer negócio, inclusive agropecuário, envolve a tomada de decisão sobre como utilizar os recursos necessários para produzir. Estes recursos, segundo a teoria econômica, se chamam fatores de produção ou recursos econômicos. A literatura especializada considera estes fatores como recursos que podem ser mobilizados para a produção de bens e serviços. São eles: terra, capital e trabalho. E mais recentemente, a tecnologia envolvida nos processos produtivos pode ser considerada como o quarto fator, segundo a descrição tradicional.

A visão tradicional dos recursos econômicos necessários à produção
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    No agronegócio, o produtor de bens ou serviços pode ser uma empresa como, por exemplo, uma agroindústria que fabrica um produto alimentício que atende os consumidores, ou um agricultor que produz grãos para atender às necessidades de uma agroindústria (o processador de alimentos). Então, para produzir, um negócio (seja a agroindústria ou a propriedade rural) precisa de recursos, como mão de obra, terras ou prédios, equipamentos, dinheiro e outros recursos. E quem decide os rumos deste negócio deve, entre suas responsabilidades, decidir quais recursos utilizar e como usá-los.

    A produção corresponde ao processo de transformação dos fatores de produção em bens ou serviços. Os fatores de produção são os meios utilizados para a produção e possuem algumas características: a) são recursos limitados ou finitos; b) podem ter diferentes usos e; c) também podem ser combinados de diferentes formas.

    As unidades produtivas, por possuírem fatores de produção limitados, devem fazer escolhas entre diferentes possibilidades de produção. Com isto, surgem algumas questões: o que produzir? Como produzir? Quanto produzir?

    É preciso avaliar o que e quanto produzir, pois os recursos de produção são limitados e será necessário fazer escolhas sobre quais produtos devem ser produzidos e a quantidade adequada. Também é importante avaliar o aspecto de como produzir. Já que serão escolhidos os produtos, é preciso verificar os recursos de produção que serão usados para a produção, considerando o grau tecnológico existente. O método de produção que possuir o menor custo será considerado o mais eficiente em termos econômicos, principalmente considerando as características da produção de commodities agropecuárias.

    Segundo a Teoria Econômica tradicional, os recursos econômicos usados na produção de bens e serviços podem ser categorizados como terra (todos os recursos naturais passíveis de exploração econômica), o trabalho (todos os talentos físicos e mentais dos indivíduos por meio do esforço físico e intelectual) e o capital (refere-se ao conjunto de estruturas que o negócio possui usados na produção e aprimoramento do produto ou serviço final). O capital pode ser físico, que contempla os materiais tangíveis, como máquinas, prédios, equipamentos e matéria-prima, por exemplo. Alguns autores incluem o capital intelectual, pois este representa o conjunto de competências, habilidades e características de personalidade que beneficiam a efetivação de trabalho, gerando, desse modo, valor econômico. Esta definição de capital intelectual também pode ser relacionada com a capacidade empreendedora (vontade e capacidade de iniciar um negócio, inovar, assumir riscos e estabelecer relações comerciais com fornecedores, clientes, credores e outros). Além disso, o fator capital também engloba o capital financeiro.

      

     Atualmente a tecnologia aplicada ao processo de produção, como já mencionado, também pode ser considerada o 4º fator de produção tradicional, pois melhores tecnologias (know-how) podem proporcionar maior produção com a mesma quantidade de insumos ou manter o nível de produção com menor quantidade de insumos. Este fator está vinculado à inovação, à capacidade e à eficiência nos processos produtivos, mediante recursos como equipamentos, técnicas de produção, sistemas de informação, documentos técnicos, entre outros.

    Com relação ao uso dos fatores de produção, é importante destacar que o sistema econômico é baseado na ideia de que o proprietário de um recurso econômico tem o direito de ser compensado, ou seja, a propriedade dos recursos econômicos permite que seu proprietário obtenha ou deveria obter retorno sobre os mesmos.  Assim, o proprietário da terra tem direito a receber o arrendamento, o trabalhador tem direito a receber um salário, o proprietário do capital tem direito a receber juros e o empresário obter lucro.

    O proprietário de um negócio pode possuir cada um destes de fatores de produção e utilizá-los em seu negócio ou pode adquirir estes recursos de terceiros (de outros proprietários) e depois utilizar em seu negócio, como contratar um funcionário, arrendar terras ou tomar capital emprestado. Desta forma, podemos dizer que:

  • O capital é uma combinação de dívida e capital próprio;
  • A terra é uma combinação de uso de terra própria e/ou arrendada;
  • A mão de obra é uma combinação do esforço dos proprietários e o esforço dos colaboradores.

    Duas observações podem ser realizadas com relação ao retorno dos fatores de produção:

a) O fato de um determinado fator de produção ser próprio não significa que seu proprietário não deva obter um retorno sobre sua utilização. Por exemplo: uma propriedade rural que produz em suas próprias terras deve incluir o custo (de oportunidade) compatível com um valor de arrendamento. Mesmo que não ocorra pagamento (desembolso) efetivo, o registro deste custo é importante para a análise do retorno da atividade econômica, se comparado com o investimento de recursos envolvidos na produção ou prestação de serviços. Como exemplo: imagine uma propriedade rural que produz em terras próprias, mas não considera o custo do uso deste recurso (terra). Esta propriedade obtém um lucro de $ 40.000,00, não considerando, como destacado, o uso da terra e registrando apenas os desembolsos que ocorreram. Se esta propriedade produzisse em terras de terceiros, pagando (desembolsando) $ 45.000,00 de arrendamento, a conclusão é que sua atividade não é lucrativa, pois não tem condições de remunerar todos os recursos produtivos que utiliza.

b) Devemos considerar que o proprietário da terra poderia optar, ao invés de produzir em suas terras, arrendar as mesmas para outro produtor e obter um retorno sobre o recurso produtivo que dispõe, por meio de um valor de arrendamento. Esta opção poderia ser considerada como uma utilização alternativa ou oportunidade de obter retorno de outra forma. Por este motivo, considera-se que o uso de um fator de produção próprio incorre em um custo de oportunidade, mesmo que este não seja um desembolso efetivo de caixa.

     Outro aspecto que podemos destacar é o fator de produção trabalho.  A gestão do negócio é um tipo de trabalho e, sendo geralmente realizada pelo(s) proprietário(s), estes têm direito a uma remuneração compatível com um salário, também chamada de pró-labore (remuneração do trabalho realizado por sócio), que é diferente de lucro. Lembre que o recurso econômico “trabalho” também deve ser remunerado. Se o proprietário atua efetivamente no negócio, ele deve obter retorno sobre o seu trabalho, assim como pagaria um colaborador que realizasse uma atividade semelhante.

      Abordaremos os conceitos de custo de oportunidade e de pró-labore em outros textos de forma mais detalhada.  Além disso, abordaremos uma visão alternativa dos recursos econômicos (a informação, a reputação e a gestão de riscos) necessários à produção, que amplia a abordagem dos fatores de produção segundo a descrição tradicional, conforme apresentados neste texto.

 

Alves, Aline. Característica dos fatores de produção. In: _____. (org.). Engenharia econômica. Porto Alegre : SAGAH, 2017.

Arbage, Alessandro Porporatti. Fundamentos de Economia Rural. 2. ed. Chapecó: Argos, 2012.